A Alemanha pode tornar-se, com o tempo, o maior apoiante internacional da Ucrânia, mas sem preencher o vazio de liderança dos EUA, caso continue o bloqueio ao pacote de ajuda a Kiev, segundo analistas ouvidos pela Lusa.
O tenente-coronel Torben Arnold acredita que o mundo está de olhos postos na Alemanha e que Berlim tem “um papel muito importante a desempenhar” no apoio à Ucrânia. Já o analista Rafael Loss, vai mais longe, apontando as mudanças que se podem prever caso o Congresso norte-americano se mantenha num impasse, e Donald Trump for reeleito para a Casa Branca.
“Então sim, é provável que a Alemanha se torne, com o tempo, o maior apoiante internacional da Ucrânia. Mas isso não significa que a Alemanha possa preencher o vazio de liderança que os EUA deixariam”, destaca o especialista em segurança e política de defesa europeia no Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) em Berlim.
O líder republicano da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso norte-americano) recusou-se na semana passada a submeter a votação um projeto de lei de ajuda americana à Ucrânia que acabava de ser aprovado pelo Senado (câmara alta).
Sem a adoção de um novo envelope, que prevê 95 mil milhões de dólares (88,5 mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual), incluindo 60 mil milhões de dólares (56 mil milhões de euros) para a Ucrânia, 14 mil milhões de dólares (13 mil milhões de euros) para Israel, bem como fundos para Taiwan, não será retomada a ajuda norte-americana ao Exército ucraniano, interrompida desde o final de dezembro.
Este bloqueio, para além da discussão parlamentar, resulta de um impasse entre o Presidente norte-americano Joe Biden e o seu antecessor republicano Donald Trump, ambos candidatos às eleições presidenciais de novembro.
“A liderança dos Estados Unidos não se manifesta apenas no volume de ajuda militar enviada para a Ucrânia, estende-se ao grupo Ramstein, à coordenação das atividades na NATO e à inclusão de países não europeus, como a Coreia do Sul, no seio da coligação internacional” de apoio a Kiev, sublinha Rafael Loss, em declarações à Lusa.
“Também vimos que as ameaças nucleares de Vladimir Putin tiveram um efeito muito mais forte nas mentes dos decisores alemães do que na Grã-Bretanha, França ou Polónia. Sem as sólidas garantias de segurança dos EUA em relação à NATO, incluindo no domínio nuclear, acho difícil imaginar que Berlim se sinta subitamente mais determinada a enfrentar Putin”, destaca.
Para o tenente-coronel Torben Arnold, investigador no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP),”não é possível compensar totalmente a ajuda prestada pelos EUA devido à insuficiência das capacidades de defesa na Europa”.
“Por esta razão, é agora necessário dar prioridade ao que pode ser feito para ajudar efetivamente a Ucrânia. Para se preparar para uma redução da ajuda dos EUA no próximo ano, a Europa tem de começar agora e não no próximo ano. Nessa altura, será demasiado tarde”, avisa.
Torben Arnold alerta para a importância de não comparar os números de armas ou munições com os russos, mas sim permitir à Ucrânia que estabeleça a sua superioridade através de “melhor tecnologia, táticas e procedimentos.”
O investigador do SWP de Berlim defende que a “zeitenwende” (mudança de paradigma), prometida por Olaf Scholz depois da invasão da Rússia à Ucrânia em fevereiro de 2022, só agora está a começar.
“A defesa nacional como um todo deve ser considerada e significativamente alargada. Por outro lado, as forças armadas alemãs têm de estar preparadas para o pior cenário possível (…) Isto não acontecerá de um dia para o outro”, considera.
No discurso no parlamento alemão, três dias depois do início da guerra na Ucrânia, a 27 de fevereiro de 2022, o chanceler alemão anunciou um pacote de 100 mil milhões de euros para a modernização da Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs.
Para o analista Rafael Loss, a “zeitenwende” na Alemanha está “bloqueada”.
“O governo alemão tem dificuldade em delinear um plano de despesas a médio prazo (…) mas é urgentemente necessário. Independentemente de como ou quando a guerra na Ucrânia terminar, a Rússia de Vladimir Putin continuará a ser uma ameaça a longo prazo para a segurança europeia”, aponta.
“A vitória (na guerra) encorajaria Putin. A derrota torná-lo-ia ainda mais imprudente. E os seus objetivos permanecem inalterados: castigar os Estados Unidos para fora da Europa e estabelecer a Rússia como a potência militar dominante no continente, o que não é do nosso interesse”, conclui.
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