
Os argentinos Sebá, Mascherano e Tevez (da esq. para a dir.) em treino do Corinthians em 2005 Imagem: Fernando Santos/Folha Imagem
Eles simbolizam uma era. Trazidos ao Corinthians no começo de 2005 por US$ 37,5 milhões (R$ 194,8 milhões), os argentinos Sebá Domínguez, Carlitos Tevez e Javier Mascherano são três dos jogadores mais lembrados quando o assunto é a parceria do clube com o fundo de investimento MSI (Media Sport Investiment).
Em pleno 2022, 17 anos depois, um novo fato volta a unir o trio. Juntos no título do Brasileirão de 2005, eles hoje tentam se destacar nas recém-iniciadas carreiras como técnicos de futebol.

Sebá Domínguez (esquerda) é assistente de Hernán Crespo no Al-Duahil, do Qatar Imagem: Reprodução Facebook
O primeiro da turma
Dos três argentinos, quem permaneceu mais tempo no Corinthians foi Sebá Domínguez, dispensado por Emerson Leão no final do Campeonato Brasileiro de 2006.
O zagueiro seguiu sua vigorosa carreira pela seleção argentina e por Estudiantes, Vélez Sarsfield e América (México), se aposentando em 2017, no Newell’s Old Boys.
Fã de Jorge Amado, lançou um livro de contos e se tornou uma verdadeira estrela de TV como comentarista da ESPN. “Mas eu queria demais competir. Sempre foi minha paixão”, comentou Sebá à coluna. E no começo deste ano ele aceitou a proposta de Hernán Crespo para ser seu assistente no Al-Duhail, do Qatar.
Muito aplicado nos estudos ainda na infância, Sebá se formou técnico em 2014, ainda enquanto jogava. “O que me deixava um pouco angustiado na TV era a possibilidade de não interferir no andamento das partidas. Agora tenho esta oportunidade”, seguiu.
Discreto, Sebá é o típico profissional “passo a passo”. Prefere não comentar se um dia será o técnico principal ou se tem ambições maiores para a carreira. “A rotina aqui com Hernán é apaixonante o suficiente. Deixamos para pensar nisso outra hora”, responde, quando é questionado sobre o futuro.

Javier Mascherano treina a seleção argentina sub-20 Imagem: Divulgação AFA
O senhor seleção
Mascherano saiu do Corinthians ao lado de Tevez, em agosto de 2006, rumo ao West Ham, da Inglaterra. O volante construiu então uma respeitável carreira no Velho Continente, com passagens marcantes por Liverpool e Barcelona, além de jogar quatro Copas do Mundo com a seleção argentina (2006, 2010, 2014 e 2018).
Seleção argentina, aliás, que tinha em Mascherano o seu recordista em número de jogos: 147 (agora atrás de Messi). Separar Mascherano da azul e branca é impossível. Nada mais natural, então, que sua carreira de técnico começasse sob o escudo da AFA na seleção sub-20.
Mascherano formou-se como técnico quando atuava no futebol chinês, em 2019. E estreou na atual função em janeiro deste 2022. Tinha propostas para ser técnico principal, por exemplo, do Racing, mas preferiu começar de baixo. Além de comandar o time, o ex-volante do Corinthians é o responsável por um sofisticado sistema para captar talentos argentinos ao redor do mundo.
Seu primeiro torneio à frente da Argentina sub-20 foi neste mês de junho, em Toulon, na França, terminando na quinta posição.

Carlitos Tevez comanda treino no Rosario Central Imagem: Divulgação CARC
A surpresa
A paixão corintiana por Tevez foi intensa e traumática, com o jogador mandando a torcida se calar e tendo o seu carro chutado na saída do estádio em agosto de 2006. Pouco depois, ele iniciaria o périplo que envolveria passagens campeãs por Manchester United, Manchester City e Juventus, até retornar ao Boca Juniors, o clube dos seus amores.
Tevez jamais deu sinais de que seria técnico. A primeira pista foi quando ele anunciou sua aposentadoria como jogador, no começo deste mês de junho.
E o sempre impulsivo Carlitos surpreendeu a Argentina ao fechar com o Rosario Central para ser o novo treinador da tradicional equipe do interior do país. Ele tem apenas um curso preliminar concluído (um ano e meio de duração de um total de três), o que gera discussão no país,
O ex-atacante corintiano sofreu uma grande decepção antes de estrear. Ele teria o xará Carlos “Chapa” Retegui como auxiliar. “Chapa” foi o técnico das vitoriosas seleções masculina e feminina de hóquei na grama da Argentina, e não pôde largar o cargo que tem no Ministério do Esporte. Sua vaga deve ser ocupada por Walter Erviti, ex-volante do Boca que perdeu a Libertadores de 2012 para o Corinthians.
Definindo-se como um discípulo do italiano Antonio Conte, seu técnico na Juventus, Carlitos fará sua estreia amanhã (24). Será às 19h (de Brasília), contra o Gimnasia y Esgrima, em casa, no Gigante de Arroyito.
Que ninguém espere Sebá, Tevez ou Mascherano citando como inspiração algum dos técnicos do Corinthians. Não faltou qualidade, mas sobrou rotatividade e desorganização.
Sebá, o mais longevo do trio, foi comandado por nada menos que sete treinadores diferentes nas duas temporadas de Corinthians.
A lista completa desafia até os mais fanáticos. Começou com Tite, seguindo depois com Daniel Passarella, Márcio Bittencourt, Antônio Lopes, Ademar Braga, Geninho e Emerson Leão.
Além de Sebá, Tevez e Mascherano, aquele Corinthians de 2005 tem hoje Coelho e Rosinei tentando a carreira de técnico.
Coelho trabalha no sub-23 do Portimoense, de Portugal, enquanto Rosinei está sem clube —mesma situação do ex-meia Ricardinho, que jogou a Libertadores de 2006 com Tevez, Sebá e Mascherano.