MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Na família de Simone Zamprogno, 38, a polenta e a sopa tipo minestra estão presentes no cardápio da semana. Nos dias especiais, é a vez de comer agnolini, uma massa pequena recheada. “A moqueca capixaba não tem nada a ver com a gente! Nós nos parecemos mais com o sul do país do que com outras áreas do Espírito Santo”, diz.
Moradora de Santa Teresa (90 km de Vitória), Simone é da sexta geração de descendentes de Sebastiano Zamprogno, que, aos 57, chegou ao Brasil no veleiro La Sofia. Há 150 anos, ele saiu do Vêneto com a mulher, 11 filhos e um neto e embarcou em Gênova rumo a Vitória.
Sebastiano fez parte do grupo que se revoltou com as condições encontradas na colônia privada organizada por Pietro Tabacchi, em 1874. “Ele esteve entre os fundadores do Núcleo Timbuhy, que viria a se tornar o município de Santa Teresa”, conta. Ainda hoje, o lote de terra recebido do governo imperial para o plantio de café pertence a familiares de Simone.
Com 22 mil habitantes, Santa Teresa permanece marcada pela chegada de italianos, que, distantes de aglomerados urbanos, mantiveram tradições. Além da alimentação, Simone conta que é capaz de entender o dialeto dos antepassados.
Aos 18, ao sair da cidade para estudar na vizinha Colatina, ela se deu conta de que era diferente. “A ligação com a Itália é algo que pertence à gente, é até difícil de descrever. Fui perceber que era diferente quando cheguei à faculdade e me chamaram de italianinha. Até então, para mim, isso era algo natural, não conhecia outro mundo.”
Professora de geografia e diretora de escola, Simone nunca esteve na Itália nem possui a cidadania. Também nunca teve contato com possíveis parentes que tenham ficado no Vêneto. “Nunca tentei encontrar ninguém, mas sei de famílias que foram atrás e não foram bem recebidas. Eles acham que a gente está querendo ir atrás de herança, o que obviamente não é a intenção.”
Jurema Tonini, 68, é da quinta geração dos passageiros do La Sofia. Seu tetravô veio com a família, incluindo o filho Giuseppe Lazzaro, 21, outro que fez parte do grupo de fundadores de Santa Teresa.
“Ele foi um dos líderes do movimento de insatisfação. Depois vieram [para Santa Teresa] em mata fechada e tiveram de aprender a trabalhar com a cultura de terra tropical, sem nenhum conhecimento”, conta. “A minha família ainda está nas terras dos primeiros imigrantes.”
Como Simone, Jurema também tem a alimentação e a língua dos antepassados presentes em seu dia a dia sua família por parte de mãe também é de origem italiana. “Minha mãe falava muito em italiano, principalmente quando não queria que os filhos entrassem na conversa dos adultos”, diz.
Proprietária de uma pousada na região e presidente do Circolo Trentino di Santa Teresa, de preservação da cultura italiana, Jurema não tem a cidadania, mas já esteve na Itália, apesar de não ter visitado o Trento, de onde saíram seus antepassados. “Eles foram muito corajosos e persistentes.”
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