Sousa e Castro acusa Spínola de ser o responsável pelo PREC

O antigo capitão de Abril Rodrigo Sousa e Castro responsabilizou, na sexta-feira, António de Spínola pelo “balanceamento dramático do país para a esquerda e a extrema-esquerda” durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC).

“Não foi só condução, foi pela basculação, isto é, por um balanceamento dramático do país para a esquerda e para a extrema-esquerda”, disse Rodrigo Sousa e Castro a propósito do general Spínola, que tomou posse como Presidente da República em 15 de maio de 1974.

Rodrigo Sousa e Castro, antigo militar que fez parte, em 1973, da Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães, na clandestinidade, falava à agência Lusa à margem do lançamento do livro “Capitães de Abril — a Conspiração e o Golpe”, ocorrido hoje na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.

António de Spínola “é o responsável por não ter havido uma transição mais moderada, mais serena e que podia ter desembocado num modelo mais social-democrata, portanto liberal, democrata, com eleições livres”, frisou.

“Com a Constituição, que iria sempre ser votada e ia ser sempre igual à que nós temos, evidentemente com as reformas que foram feitas”, sublinhou o militar na reforma, à margem do lançamento do livro dos jornalistas Rui Cabral e Luís Pinheiro de Almeida, que teve o apoio da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e da agência Lusa, onde os autores trabalharam.

“Ele foi o grande responsável”, reiterou Rodrigo Sousa e Castro que, durante a apresentação do livro já tinha designado como “uma birra” daquele general a iniciativa política de alguns setores conservadores da sociedade civil e militar portuguesa que, em 28 de Setembro de 1974, decidiram convocar uma manifestação de apoio ao então Presidente da República, general Spínola.

O general Spínola “achava que devia haver um referendo para ele ser sufragado e os militares sempre remeteram para a Constituição já velhinha, mas que é a garantia da democracia em Portugal”, afirmara Sousa e Castro no lançamento do livro.

E a “direita, que gosta tanto de avocar para si o 25 de novembro como uma data heroica não assume o golpe militar de direita de 11 de março, que até vítimas fez”, frisou, lembrando ter sido o único capitão de Abril a escrever um livro intitulado “Capitão de Abril, Capitão de novembro”, no qual assume ter participado nos dois acontecimentos.

Para Sousa e Castro, foi o 11 de março de 1975 que “fez bascular o país para a esquerda e para a extrema-esquerda”, levando a que fosse depois “muito difícil meter as pessoas a conformarem-se com a democracia”.

“Para mim, [Spínola] é o grande responsável pelo PREC”. Tal “como os militares que o acompanharam no golpe militar de direita de 11 de março”, acrescentou.

Sousa e Castro invocou mesmo a fuga de Spínola para Madrid de helicóptero, numa alusão à chegada de Spínola, sua mulher e 15 oficiais, na noite de 11 de março de 1975, à base aérea de Talavera La Real (Badajoz).

Entre os oficiais que acompanharam Spínola na fuga para Espanha constava Dias de Lima, que fora promovido a tenente-coronel um dia depois da “maioria silenciosa” e que investigadores referem como o braço-direito de Spínola na constituição do MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal), organização de ultra direita criada por este no exílio após a intentona falhada de 11 de março de 1975.

“E a história é para ser recordada. Não é só para recordarem o 25 de Abril ou o 25 de novembro como alguns querem. É para ser recordada na sua integralidade”, frisou Sousa e Castro.

Instado pela Lusa a pronunciar-se sobre a condecoração póstuma de Marcelo Rebelo de Sousa a Spínola, em 05 de julho de 2023, com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, uma notícia avançada pelo jornal Público há três dias, Sousa e Castro escusou-se a fazê-lo.

“Não sou o chanceler das ordens nacionais”, disse, sublinhando todavia “ostentar com muito orgulho” a Ordem da Liberdade, apontando para o símbolo na lapela do casaco e acrescentando que “seguirá com ele “para a cova”.

“Mas não me pronuncio sobre isso”, enfatizou.

Presente na inauguração da exposição “O MFA e o 25 de Abril”, também ocorrida na tarde de sexta-feira na Gare Marítima de Alcântara, o Presidente da República disse aos jornalistas presentes que foi apenas por “lapso”, relacionado com o período de férias, que a condecoração atribuída a Spínola não tinha sido publicada no ‘site’ da Presidência. “Foi em julho, mas só saiu em Diário da República em agosto. Mete-se o verão e no intervalo entre julho e agosto acabou por não sair [no ‘site’]. Mas [o nome de Spínola estava entre] cento e tal pessoas, [estavam] as chefias militares.”

Questionado também sobre Otelo Saraiva de Carvalho — um dos três responsáveis pelo 25 de Abril que nomeara durante a apresentação do livro, juntamente com Melo Antunes e Salgueiro Maia -, o antigo capitão de Abril Sousa e Castro reiterou que “foi falta de coragem não terem decretado luto nacional” quando da morte do coordenador operacional do movimento dos capitães, em 25 de julho de 2021.

“Mesmo que fosse por meio dia ou por uma hora, em nome do militar que comandou as operações que derrubaram a ditadura e que lhes possibilitou [serem] as autoridades mais poderosas à frente do país, naquele momento da morte de Otelo”, disse Sousa e Castro, numa alusão direta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ao então primeiro-ministro António Costa.

A possível justificação para não ter sido decretado luto nacional remete “para uma atividade que não teve nada a ver com o ato heroico por ele cometido” enquanto capitão de Abril, observou Sousa e Castro, numa alusão a ter sido invocada a participação de Otelo no processo das Forças Populares 25 de Abril (FP/25).

“Isso chama-se falta de coragem política e Mário Soares não teria feito isso”, concluiu Sousa e Castro.

Leia Também: 25 de Abril: “Uma grande reportagem sobre maior aventura do nosso tempo”

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