Os portugueses não são pouco produtivos, são é mal pagos

Quando colocados em ambientes que valorizam adequadamente o seu trabalho e o remuneram de forma justa, os profissionais portugueses não só atendem às expectativas como frequentemente as superam

os portugueses não são pouco produtivos, são é mal pagos

Os portugueses não são pouco produtivos, são é mal pagos

Numa era em que a produtividade no local de trabalho é constantemente debatida, torna-se imperativo abordar uma questão frequentemente mal interpretada: a alegada baixa produtividade dos trabalhadores portugueses.

Frequentemente, escutam-se críticas à eficiência laboral em Portugal, mas questiona-se se este problema residirá verdadeiramente na capacidade e esforço dos trabalhadores, ou estará nas condições de trabalho que lhes são oferecidas.

Nas diversas intervenções que tenho realizado, destaco um equívoco comum que afeta profundamente a perceção sobre a produtividade em Portugal. Nota-se que o trabalhador português, muitas vezes rotulado de pouco produtivo dentro do nosso país, ao emigrar para nações como Alemanha, Suíça, Inglaterra, Suécia, ou Dinamarca, sobressai pela sua ética de trabalho e elevada produtividade.

Este fenómeno revela que, quando colocados em ambientes que valorizam adequadamente o seu trabalho e o remuneram de forma justa, os profissionais portugueses não só atendem às expectativas como frequentemente as superam.

Importa sublinhar que esta análise não se restringe apenas aos trabalhadores de menor qualificação. Aplica-se igualmente aos quadros superiores, aos líderes de equipas, e até à classe política. Esta observação sugere um padrão sistemático que indica que a questão não é intrínseca ao trabalhador, mas sim ao contexto económico e social em que este se insere.

Refletindo sobre esta realidade, urge uma mudança de paradigma na forma como valorizamos e compensamos o trabalho em Portugal. Está na altura de reconhecer que não basta apenas ajustar indicadores macroeconómicos sem considerar o bem-estar e a justiça social como pilares de desenvolvimento.

A solução passa, inevitavelmente, por uma reforma estrutural nas políticas salariais e fiscais. Para que Portugal possa realmente competir em igualdade de circunstâncias com outros países europeus, é fundamental que o governo implemente um choque fiscal, reduzindo os impostos que incidem sobre os salários. Esta medida permitiria não apenas um aumento do rendimento líquido ao final do mês, mas também uma maior capacidade de poupança e investimento por parte dos trabalhadores.

Além disso, é vital que as empresas invistam em tecnologia e formação contínua. O aumento da produtividade passa indubitavelmente por equipar as nossas forças laborais com as ferramentas e conhecimentos que permitem não só acompanhar, mas liderar a inovação e a competitividade a nível global.

Este apelo não é meramente economicista; é uma chamada de atenção para que reconheçamos a dignidade do trabalho e o respeito que cada trabalhador merece. A produtividade não pode ser vista isoladamente como uma métrica de desempenho; deve ser entendida no contexto mais amplo de equidade e justiça social.

Portugal tem, ao longo das décadas, demonstrado uma capacidade incrível de superação e inovação. Os nossos emigrantes são exemplo disso mesmo, ao excederem expectativas pelo mundo fora. Agora, é tempo de trazer essa energia e competência de volta às nossas fronteiras, criando um ambiente que favoreça a justa valorização do trabalho e o reconhecimento das competências.

Numa conclusão, esta reflexão não se destina a simplificar a complexidade das questões económicas e laborais de Portugal, mas a enfatizar que a chave para a produtividade e o crescimento sustentável reside tanto em melhores salários como em condições de trabalho mais justas e motivadoras. Portanto, o desafio que se coloca é claro: reformar para valorizar, remunerar para motivar. Chegou a hora de ajustar as velas para que possamos navegar não à sombra de críticas, mas à luz de resultados efetivos e justos para todos.

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