SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Falta maconha em São Paulo. Mais especificamente, a modalidade conhecida como prensado -produto processado, geralmente misturado a outras substâncias, fazendo dele mais barato. Por isso, é também o tipo mais consumido da droga.
A situação vem sendo relatada há duas semanas por usuários e traficantes. Um delegado confirmou a situação à Folha de S.Paulo.
Os motivos da escassez seriam grandes apreensões, a entressafra da planta e um suposto problema de distribuição gerado por um racha na facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
A venda e o porte de maconha são proibidos pela lei brasileira, incluindo para consumo próprio.
Aos usuários, o artigo 28 da Lei de Drogas prevê advertência sobre os efeitos dos entorpecentes, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Já quem trafica a droga pode pegar de 5 a 15 anos de prisão, além de pagar multa de R$ 500 a R$ 1.500.
Após queimar seu estoque de prensado na última sexta-feira (19), a estudante Clara, 24 -que, como os demais ouvidos pela reportagem, pediu para ter seu sobrenome omitido-, enviou mensagem a um traficante. Ele respondeu que recebera pouca maconha, por isso, os preços haviam subido.
Normalmente, o grama da erva é vendido a R$ 10. Estava a R$ 19. O homem também limitou a quantidade por comprador.
Clara, moradora de Perdizes, na zona oeste da capital, optou pelo skunk, variedade mais cara e potente da Cannabis, e tem até experimentado novos entorpecentes, como cogumelos e LSD (ambas drogas psicodélicas).
O traficante da jovem, Gean, 33, diz que o prensado é hoje um artigo de luxo devido à dificuldade em encontrá-lo. Ele explica que o produto tem origem no Paraguai e chega a São Paulo em carros e caminhões –modalidade bastante suscetível a apreensões.
Há ainda outras questões que afetam a disponibilidade da droga na cidade. Neste mês, a maconha está em seu período entressafra, e qualquer interceptação de carga pode prejudicar o fornecimento, afirma ele.
Com clientela nas regiões oeste e central, ele cita como exemplo uma ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em São Paulo, há uma semana, terminada com mais de 300 quilos da droga aprendidos num carro na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225), em Bauru, interior do estado.
“Essa viagem da maconha do Paraguai até São Paulo é tosca. Ela é feito geralmente por mulas, motoristas de caminho, caminhoneiros ou motoristas de carro”, afirma o jornalista Allan de Abreu, autor de “Cocaína: A Rota Caipira” (editora Record), sobre a história do narcotráfico no Brasil.
“Ocorre dessa forma porque a mercadoria é mais barata. Se o transportador for pego, é possível que ela seja reposta com uma certa facilidade”, afirma. “Já a cocaína, mais cara, vem de avião.”
O delegado de uma unidade especializada em investigação de entorpecentes na capital confirmou o atraso na distribuição de prensado para pontos de tráfico.
Para ele, isso pode estar associado à entressafra, como citado por Gean, mas há outra suposição: um recente racha entre lideranças do PCC, responsável pelo tráfico na cidade, pode estar afetando o segmento.
Como mostrou a Folha, um grupo liderado por Roberto Soriano, o Tiriça, passou a disputar o controle da facção com a ala de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe máximo do grupo.
Tiriça é apontado como o responsável por gerenciar o tráfico de maconha dentro do PCC. Por isso, a distribuição da droga teria sido afetada pela disputa.
Já outro delegado que também se dedica a essas investigações vê a entressafra e o aumento das ações de apreensão como mais determinantes para uma possível falta da droga no mercado. Na avaliação dele, o negócio da facção é predominantemente o tráfico de drogas, mas o tráfico é maior do que a facção.
Enquanto isso, Jonathan, 29, em seu apartamento no Campo Limpo, zona sul, realiza encontros quase diários com amigos para uma espécie de feira de troca. Quem chegar com 10 gramas de prensado pode exigir o triplo de qualquer outra droga.
A escassez do produto, diz o gerente de vendas, motivou a iniciativa.
Usuário de maconha há anos, Jonathan só fuma o prensado, porque acha outros tipos muito fortes.
Quando alertado sobre a baixa disponibilidade da variedade, juntou amigos na mesma situação e firmou uma aliança. Quem conseguir a erva, compartilha. Em troca, recebe outras drogas.
Também foram ouvidos relatos da ausência da maconha barata em pontos de drogas nas regiões do Sacomã e do Jabaquara, ambas na zona sul.
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