Geoparques: o Brasil do tempo da pedra

A princípio, parece apenas um amontoado de pedras.

Pode soar como assunto só para cientistas, mas fazer turismo em áreas denominadas geoparques é como “ouvir” a Terra contar a história da sua própria evolução, a partir de disciplinas como arqueologia, geologia e paleontologia.

E basta visitar um mundo-pedra daquele para a gente querer viajar para todos os outros, onde sempre tem uma trilha para fazer, uma descida de rio em caiaque ou uma visitinha a alguma família de dinossauros.

Trilha do Cotovelo, no Cânion Itaimbezinho (foto: Renato Machado/Divulgação)

Atualmente, o Brasil abriga cinco áreas na Rede Mundial de Geoparques da UNESCO, de acordo com sua excepcionalidade geológica, importância científica e características únicas. Duas delas no Nordeste, no Araripe (CE), o primeiro das Américas, e no Seridó (RN), e as outras três no Rio Grande do Sul: Cânions do Sul, Quarta Colônia e Caçapava do Sul.

Dois deles tiveram seus reconhecimentos, em abril deste ano: o Geoparque Global Seridó, uma área de 2.800 km², a 150 quilômetros de Natal, e o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.

“Após muito trabalho dos pesquisadores, este é um grande fato para o Brasil. Ficamos muito contentes porque é um tema que tende a crescer no turismo nacional, baseado na geodiversidade e no patrimônio geológico”, explica para o Viagem em Pauta Joana Sánchez, coordenadora da comissão de geoparques da Sociedade Brasileira de Geologia.

Cânions dos Apertados, em Currais Novos (crédito: Getson Luís/Divulgação)

Porém, assim como lembra essa professora de geologia da Universidade Federal de Goiás, o Brasil tem mais 36 projetos de criação de geoparques globais, como o da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.

Com as duas novas inclusões deste ano, a UNESCO ampliou para 177 o número de locais que participam da Rede Global de Geoparques, atualmente, presente em 46 países.

O que é um Geoparque?Criado em 1990 para melhorar e conservar áreas de importância geológica, um geoparque abriga paisagens e formações geológicas que testemunham a evolução do planeta, em áreas geográficas únicas e unificadas.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, um geoparque é uma área única, cuja paisagem de significado internacional tem um gerenciamento holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.

Ainda segundo o SGB, para ser declarado geoparque, o local deve “gerar atividade econômica, notadamente através do turismo, e envolver um número de sítios geológicos de importância científica e com potencial uso didático ou turístico.”

GEOPARQUES NO BRASIL

Geoparques: o Brasil do tempo da pedra

Caminhos dos Cânions do Sul(SC / RS)

Esse geoparque está em sete municípios: quatro em Santa Catarina (Praia Grande, Jacinto Machado, Timbé do Sul e Morro Grande) e três no Rio Grande do Sul (Torres, Mampituba e Cambará do Sul).

A Serra Geral é uma sequência de montanhas esculpidas que deram origem a cânions profundos em destinos como Cambará do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC), a 205 km de Florianópolis e a 184 km de Porto Alegre, aproximadamente.

Essa região de quase três mil km² é conhecida pelas trilhas nos cânions Itaimbezinho, no Parque Nacional dos Aparados da Serra, e no Fortaleza, o mais profundo e extenso deles, cujos paredões verticais no Parque Nacional da Serra Geral chegam a 900 metros de altura e se estendem por 7,5 quilômetros.

Segundo a UNESCO, essas formações têm origem em processos geomorfológicos únicos, há cerca de 180 milhões de anos, quando a Terra sofreu a dissolução do supercontinente Gondwana.

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SAIBA MAIS: “Como são as trilhas nos cânions do Sul?”

Quarta Colônia

(RS)

Esse geoparque fica no centro do estado e é formado por nove cidades pouco conhecidas dos turistas brasileiros, como Agudo, Dona Francisca e Faxinal do Soturno.

Fica em uma área de transição entre os biomas Pampa e Mata Atlântica e se destaca pelo patrimônio paleontológico único, internacionalmente, em meio à uma paisagem de cerca de 233 milhões de anos.

Entre os destaques turísticos estão o Espaço dos Dinos, em Agudo, trilhas em Ivorá e os cânions da Piruva, a 12 quilômetros da cidade de Ivorá.

Caçapava do Sul(RS)

Fósseis de animais extintos da megafauna, como as preguiças-gigantes, e rochas sedimentares marinhas e continentais de mais de 500 milhões de anos são os destaques geológicos desse município, a 260 quilômetros de Porto Alegre.

Um dos atrativos é o geossítio Serra do Segredo, uma área de 30 km², onde o turismo de aventura acontece em cavernas e em descidas do Rio Camaquã, em caiaque.

Geoparque Seridó(RN)

No centro-sul do Rio Grande do Norte, esse parque abriga os municípios de Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas.

A 150 quilômetros da capital potiguar, a área é o registro de cerca de 600 milhões de anos da história da Terra, em atrativos como sítios arqueológicos, cânions e trilhas, em 21 geossítios (sítio geológico com formações de importante valor científico).

Sítio Arqueológico Xiquexique I, em Carnaúba dos Dantas (foto: EMPROTUR/Divulgação)

“Esse reconhecimento nos dará uma visibilidade internacional, atraindo visitantes para o território e afetando positivamente o turismo e o trabalho dos guias, condutores e hoteleiros”, comemora Janaína Luciana de Medeiros, diretora executiva do Consórcio Público Intermunicipal Geoparque Seridó.

Longe do mar de águas convidativas do litoral potiguar, o turismo acontece na Caatinga, entre arbustos e árvores baixas, onde é possível fazer caminhadas curtas até atrativos como o Sítio Arqueológico Xiquexique, a 3,5 km de Carnaúba dos Dantas, e o geossítio Serra Verde, no município Cerro Corá, famoso por suas geoformas rochosas com mais de 530 milhões de anos e pinturas rupestres dentro de uma gruta.

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Araripe

(CE)

Mas tudo começou nesse geoparque no sul do Ceará, entre os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

O primeiro Geoparque das Américas está inscrito na Rede Global de Geoparques, desde setembro de 2006, e preserva sítios de relevâncias geológica e paleontológica.

O turismo por ali acontece em locais como a Floresta Nacional do Araripe, a primeira do gênero no Brasil, em Nova Olinda; no Parque dos Pterossauros, com suas escavações paleontológicas, em Santana do Cariri; e em geossítios de preservação do velo soldadinho-do-araripe, ave endêmica da região, em Barbalha.

Soldadinh-do-araripe (foto: Wikimedia Commons)

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